domingo, 23 de janeiro de 2011

Reflexões de domingo







Tive que dar uma descansada nesse domingo. Recuperar forças para a semana, aproveitando que ainda tem o pessoal que veio do Rio para dar uma força. Falei com a Michelle a respeito do abrigo de Alto Vieira, e vamos investigar se o abrigo está cadastrado pela prefeitura. A Michelle também vai avisar à Vara da Infância. Dessa forma, talvez possamos ajudar de alguma forma a tirar aquelas pessoas de condições insalubres, totalmente desumanas.


Todas essas ações são muito imediatistas e necessárias. Mas me parece que essa parte está mais organizada. As pessoas estão temporariamente acomodadas, os abrigos bem abastecidos, muitos voluntários trabalhando e muita solidariedade pelo país afora. Em termos locais, posso dizer que em um domingo de sol, as pessoas que não tiveram perdas, quase podem esquecer a tragédia toda. As sirenes não tocam mais com tanta frequência, não há mais aquela quantidade toda de helicópteros e o som da cidade, pelo menos na minha casa, é o normal de todos os domingos bem silenciosos na cidade.


Mas quando pego o jornal, vejo que o caminho vai ser longo. A questão sanitária é muito preocupante. Ontem me fizeram uma pergunta que não sei responder. Quanto tempo esses corpos não resgatados e misturados na terra fica contaminando a água? Que tipo de epidemias surgirão como consequência? O que vai ser feito com as comunidades que de fato ficam nas encostas, mas que por algum mero acaso não despencaram ainda?

Até entendo que a cidade não estivesse preparada para a maior catástrofe climática do país, acho que nenhuma cidade estaria. Mas a recuperação tem que ser rápida e eficiente de qualquer forma. Como explicar que o interior da cidade, a roça onde ficam as lavouras, depois de 11 dias continua sem luz???? As lavouras que restaram da enchente estão sendo perdidas agora por falta de energia elétrica para irrigação. Como explicar que o prefeito da cidade dispensa a ajuda da Cruz Vermelha, em meio a 400 mortos, milhares de feridos e trocentos desaparecidos? Como acreditar que o campo vai se reerguer e que o turismo vai voltar a garantir o sustento de inúmeras famílias? Como se faz para ter esperança que essas pessoas não ficarão anos em abrigos, dormindo em salas coletivas, ou não terão que habitar as encostas que cairão novamente um dia?

Eu queria dormir e acordar em um mundo onde as pessoas serão amparadas, terão casas dignas para morar em locais seguros, terão verbas para refazerem o seu meio de vida. A cidade vai voltar a produzir, o interior vai voltar a ser aquela paisagem onde as lavouras parecem uma colcha de retalhos, e a produção vai garantir emprego para todos. Os políticos não aproveitarão a liberação de verbas sem licitações garantida pelo estado de calamidade para engordar suas contas bancárias. "Falsos voluntários" não aproveitarão doações para renovar o guarda-roupa e "falsas vítimas" não se aproveitarão da situação para ganhar cestas básicas sem que tenham verdadeira necessidade.


Enquanto isso, coloco essas fotos tiradas hoje da Teresópolis-Friburgo, olhando em direção à Teresópolis, observando o alto das montanhas que ficam acima da região afetada. Campo Grande era um vale. Não era um morro. Quem diria que essas montanhas iriam um dia se "esfarelar", como acontece com o castelo de areia quando seca?



2 comentários:

  1. Paulinha,

    parabens pela sua coragem de ver todo esse caos e tentar fazer alguma coisa, ajudar, melhorar. Tudo tem uma razao de ser, agora nao conseguimos entender o porque mais um dia vc vai entender.
    Por um lado e' bom pras pessoas verem que qdo elas se unem e lutam por um ideal muita coisa acontece. O povo brasileiro tem uma forca incrivel, um coracao gigantesco, coisas que nao se observam em outros paises, pena que eles se acham tao fracos e pensam que nao podem lutar por si so pra mudar esse pais e evitar essas tragedias. Mas que sabe isso nao foi necessario pras pessoas despertarem. Vamos ver.
    Parabens e nao desista, o que vc esta fazendo e' algo muito importante. Pena nao poder estar ai pra te ajudar.
    Beijos,
    Nati

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  2. Nati
    Espero um dia realmente conseguir entender o motivo dessa catástrofe. E espero mais ainda que o povo realmente aprenda com o que aconteceu, que desperte, que mude. O Brasileiro tem muita coisa boa, mas vc sabe - o carnaval tá chegando....

    Obrigada! bjs

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