sábado, 22 de janeiro de 2011

Miséria




Patricia hoje começou o dia no "postinho" de Vieira, improvisado numa escola. Muitos casos de asma (a poeira é enorme) e muitos de diarréia. De lá, ela foi para um abrigo em Alto Vieira, onde a situação estava muito além de crítica. Miséria, abandono, ignorância. O triste é pensar que essas pessoas não somente perderam tudo, mas já viviam em condições de miséria antes da tragédia. Miséria rural. Ela passou uma tarde exaustiva.

Ainda bem que teve esse feriado no Rio, e muitas pessoas vieram ajudar, amanhã a Fernanda vai para Vieira colocar a mão na massa, levando também muita coisa arrecadada. Isso tem sido essencial, já que os voluntários daqui estão exaustos. Foram 10 dias de um desgaste emocional e físico enorme. O que se vê nos rostos das pessoas é a exaustão. Os bombeiros estão exaustos, e é muito triste ainda achar corpos depois de 10 dias, como aconteceu hoje em Vieira. O número real de mortos? Acho que nunca se saberá. Uma reportagem do globo.com dá o número de desalojados e desabrigados em toda região serrana: mais de 20 mil em 7 municípios. Teresópolis tem 319 mortos, 960 desalojados e 1280 desabrigados e 177 desaparecidos. Continuo achando esses números errados pelo tamanho do estrago que eu vejo. Quando trouxe o meu carro, que finalmente passou a manhã no salão ficando bonitinho outra vez, o Carlos, que trabalha na oficina, comentou que perdeu 80 pessoas da convivência dele. Alguém se imagina, em 4 horas, perdendo 80 pessoas da sua convivência? Eu não.

Patricia conheceu um pessoal muito legal voluntariando nesse abrigo em Vieira - 2 médicos da família, uma pediatra e uma psicóloga. Tenho certeza que fizeram muito pelo pessoal do abrigo. Mas ainda me arrepio com as histórias que contam. Algumas de cortar o coração, como o menino de 4 anos cujos pais perderam o mecado (sustento de 5 famílias) mas não perderam a casa, e ele doou todos os brinquedos dele para o abrigo. Outras de ferir o coração, como o corpo de um menino que foi encontrado hoje a uns 5 quilômetros da sua casa. Mas prefiro sempre pensar na solidariedade de tanta gente. Gente que veio de todos os cantos - Rio, Itapecerica da Serra, Bahia e tantos outros. Eles enfrentam todo tipo de absurdos, mas não desistem. A Verônica, residente de medicina da Bahia, foi proibida pelo Conselho de atender, por não ter pago a licença do CREMERJ. Caso ela clinicasse como voluntária na maior tragédia do País, com milhares de mortos, feridos, desabrigados e desaparecidos, ela teria que pagar uma multa.




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Um comentário:

  1. Minha querida,
    cabe a nós não deixar que tudo isso caia no esquecimento. Temos que manter acesa esta chama, incomodando as autoridades e cobrando de todos a clareza nos gastos com o dinheiro público. Acho até que deveriam levantar essa bandeira, "transparência" na prestação de contas na utilização das verbas encaminhadas para a solução desse problema, aliás da prevenção de novas catástrofes e solução para os desabrigados.........
    Temos que pensar em como fazer isto. É uma discussão para advogados e associações de moradores.......
    Outra coisa, não deixe de dar um grande beijo no André, sobrinho também muuuuuuuuito querido que tem sido também incansável na ajuda aos que sofrem.
    O pessoal da minha família está com donativos e os entregarão no B Peixoto, aliás também aproveitei o carreto deles para mandar saboneteiras. Semana que vem mando mais coisas que puder. Vou falar com Juliana sobre os brinquedos e tentarei ir ao Saara para comprar brinquedos para meninos..........
    Grande beijo para todos
    Tia Raquel

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