quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Como falei ontem, a vida vai tomando um certo ar de normalidade. Hoje fez um dia desses maravilhosos de verão, que a todo hora do dia a gente agradece por não estar no Rio, onde devia estar fazendo uns 50 graus. O fim da tarde foi espetacular, as cores foram passando de azul claro a alaranjado, azul escuro e finalmente, noite de céu estrelado. Temperatura simplesmente perfeita.
Aproveitei que cheguei em casa um pouco mais cedo que o habitual e fui gastar o resto do dinheiro que a Beta depositou na minha conta como doação. Estou adorando gastar o dinheiro dos outros... Enchi a mala do carro de bananas, mamões e laranjas, e fui levar em dois abrigos na cidade, deixando um pouco para levar para Venda Nova amanhã. No final da minha pequena excursão fui encontrar alguns amigos para tomar uma cervejinha de fim de dia.
O assunto ainda não tem como deixar de ser outro. Como esses amigos são muito especiais, e são eles que vão castrar os cachorros que ficarão comigo no sítio, revivi a história do Cuiabá. Eles também reviveram os primeiros dias pós-catástrofe contando o que eles viram no Campo Grande quando foram levar comida para os bombeiros que estavam trabalhando no resgate. Um bairro de 6.000 habitantes, totalmente soterrado em uma catástrofe ambiental que ocorreu entre 1 e 4 da manhã. Casas, carros, lojas, bares, escolas, absolutamente sob escombros. Escombros enormes, pedras gigantescas, metros de lama. Como é que só tem 340 mortos e 240 desaparecidos? Se todos contam histórias de alguém que perdeu tudo e todos, como é que esse número pode ser real?
Depois encontrei com uma amiga da família que é psicóloga, e ela também comentou a respeito do trabalho voluntário de psicólogos no Hospital das Clínicas, onde pacientes gravemente feridos ainda tem que encarar a perda de diversas pessoas queridas da família, como filhos, netos e cônjuges. Ainda não conseguimos estimar o real impacto disso tudo sobre a região, imagino mesmo que seja inestimável. Ao ir em outra mesa me despidir de outros amigos, qual era o assunto? Exatamente isso - a quantidade de chuva, a mudança no relevo, o número de mortos, o impacto de tudo na nosse região...
A cidade ainda vive a tentativa de retomar a normalidade... E fico aqui me perguntando: como será passar a noite no abrigo, como mais 349 pessoas?

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