terça-feira, 5 de junho de 2012

Serra do Capim

Continuando o nosso tour pelas escolas, chegamos na Escola da Serra do Capim. Mais uma vez, fomos recebidas por uma criançada feliz. Mais uma escola caprichada, arrumada, limpa e com um cheiro de comida maravilhosa vindo da cozinha. 




Pequeno laboratório de informátic


A Escola da Serra do Capim é um pouco maior, tem 70 alunos de 1o a 5o ano, e recebeu todos os alunos dessas séries de Ponte Nova. Ficou lotada. Tem uma estrutura bem melhor que a escolinha de Providência. O pequeno laboratório de informática junto à secretaria só funciona quando a diretora está. Tem um pátio grande na parte da frente da escola, com boas telas de proteção. Mas nos fundos, onde já foi um parquinho, fui apresentada a uma área interditada. Uma gangorra quebrada com ferros enferrujados e afiados à mostra. Uma casinha abandonada, lotada de carteiras velhas. E encostado na parede, uma pilha vergonhosa de carteiras, mesas e cadeiras esperando para serem recolhidas pela prefeitura. Eram novinhas quando foram retiradas da escola de Ponte Nova, mas hoje precisam sair dali direto para o lixo. Para aumentar o perigo, alguns escorpiões já foram encontrados na área, e um em uma das salas.


Casinha de boneca...
Pátio abandonado
Mesas e cadeiras abandonadas pela Prefeitura

Não falta muita coisa para que essa área possa ser usada pelos alunos. Arrumar os brinquedos, tirar o lixo e acabar com a moradia dos escorpiões. Olhando de fora, não consigo imaginar qual possa ser a dificuldade em atender os diversos ofícios enviados pelas escolas à Prefeitura. Não pedem nada exorbitante.

Os filhos do Messias, que antes da chuva eram da  Escola de Ponte Nova, agora estudam nessa escola. Vejo os deveres que eles levam para casa. Assim como os livrinhos que levam emprestados. Tudo muito caprichado. Eles adoram a Escola. E a Escola adora seus alunos.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mudando de assunto

No dia de aniversário de 1 ano da "tragédia" (termo que é utilizado como referência à grande chuva do dia 12 de janeiro de 2011), saindo do Haras encontrei uma moça fotografando a escola de Ponte Nova (que encontra-se NESSE ESTADO até hoje). Achei curioso e parei para conversar. Isabel estava muito emocionada e tinha sido diretora da escola e importante figura junto à comunidade, já que organizava a Associação de Pais da região. Deu aula para todos os filhos do Messias, que trabalha comigo no haras. Conhecia todos os moradores da região e sabia  o que tinha acontecido a cada um depois da grande chuva.

Desde a tragédia, ela tinha sido transferida para a Escola da Serra do Capim, que absorveu a maioria dos alunos de Ponte Nova. Conversamos durante um bom tempo e comecei a acompanhar um pouco do trabalho feito por ela.  Ontem, finalmente, fui encontrá-la e rapidamente, suprimindo o almoço de cada uma, fizemos um "tour" por três escolas da região. Vou aos poucos contando um pouco do que vi e senti em cada, e suas necessidades.

ESCOLA ALBINO T. DA ROCHA - Em Providência:
Funciona com 2 professoras e uma caseira. Uma das professoras é a própria Diretora da Escola, que é a Isabel. A Escola ficou fechada durante um tempo e reabriu esse ano (será por causa das eleições????). Tem 30 alunos do 1o ao 5o ano, duas salas de aula, um refeitório, um banheirinho feminino e um masculino para as crianças, uma "sala de audio-visual" (totalmente improvisada), um pequeno pátio na frente da escola, e uma área ao lado do que já foi um parquinho. Além disso, tem crianças super felizes, alguns livrinhos, alguns brinquedos, e uma limpeza incrível. Tudo arrumadíssimo, colorido, cuidado e uma horta super charmosa, chamada de "Hortaliça" (teve concurso para eleger esse nome), com canteiros feitos de garrafas pet, em formato de menina. 
"Hortaliça"




















Relógio da Ampla. Curtos frequentes










Nas salas, lâmpadas queimadas. No pátio, um relógio da AMPLA que entra em curto frequentemente. No pátio, telas de proteção em estado precário que oferecem perigo. Na sala de audiovisual, DVD e TV que funcionam mais-ou-menos. No parquinho, cadê os brinquedos que um dia foram ali colocados em mutirão pela comunidade? A prefeitura promete material para a comunidade fazer as obras, assim como lâmpadas, mas nunca se sabe quando...

A Escola foi construída em um terreno doado pelo Albino T. da Rocha, e muita gente do pequeno arredor é parente. Por isso, a escola é quase como se fosse a extensão da casa deles. De fato, me senti "em casa". Algumas crianças vêm de ônibus de mais longe (o mesmo ônibus que vai para Ponte Nova e volta e meia passa uma temporada na oficina). A chegada, obviamente, é de terra. Mas o acesso é bom, e não acontece do ônibus não conseguir subir a pequena ladeirinha. 

O pequeno pátio na frente da escola, de piso concretado com muitas irregularidades e algumas pequenas quinas (que volta e meia dão uma rasteira numa criança), é onde elas jogam bola. Mas o problema é que tem uma tela para "proteger" que não tem onde prender no chão, porque não tem um meio-fio. Então, as crianças podem cair na parte de baixo, e isso machuca! Também não tem uma telinha fina cobrindo, então de vez em quando a bola vai parar longe ou no carro de algum vizinho. Tem uma parte mais comprida e fina, de piso de terra, onde a Isabel pensa em arrumar um jogo de bocha. A área do parquinho está prontinha, aguardando os brinquedos. 



Ex-parquinho. Ou quem sabe, futuro parquinho?

Bocha












Isabel gostaria de recuperar os aparelhos de TV e DVD que foram parar em outra escola na confusão da tragédia, e até hoje não voltaram. E transformar a sala de paredes improvisadas em uma sala de verdade. E sua maior vontade, é que a escola tenha mais alunos e principalmente uma turminha de pré para garantir que a escola vai continuar funcionando, mesmo depois que as eleições passarem.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A chuva voltou



Nove meses depois, a chuva voltou.
As encostas ainda estão "carecas", as casas continuam na beira do rio (mais na beira ainda, já que os rios aumentaram), as pessoas continuam desabrigadas, os políticos continuam ganhando muito, o povo continua vivendo mal.
As estradas de terra já tiveram barreiras na primeiríssima chuva, o Rio Preto subiu 4 metros.
Em Ponte Nova, onde a escola nunca reabriu, as pessoas voltaram para casas condenadas debruçadas dentro d'água, e diversas barreiras de terra deslizada continuam como estavam em 13 de janeiro, o povo tem muito medo. O Jhonatan, que trabalha comigo e mora um pouco antes do trevo de São José, me disse que o pessoal tem passado a noite andando pela rua, vigiando o nível do rio com lanternas.
As "pinguelas" (pequenas e precárias pontes de madeira armadas sobre o rio para passagem de pedestres) ao longo de toda a BR 116 caíram nesse fim de semana. A ponte que dá acesso à Fazenda Suiça, Brejal e redondezas continua levando ao vácuo.
E a estrada de Teresópolis para São José está nesse estado das fotos que coloquei acima.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

5 meses

Ontem foi aniversário de cinco meses! Nosso "filho" está ficando cada vez maior! Me surpreendo que algumas pessoas de fora da cidade ainda me perguntam se eu fui diretamente atingida, como está a cidade, e etc. Me surpreendo que AINDA tem gente tirando casquinha da situação, se fazendo de vítima da enchente, e essas pessoas AINDA se dão bem. Ainda ouvimos comentários do tipo "fulano, que morreu na enchente". Ainda tem muitos lugares como esse, sem a menor atenção do governo (não deixe de ver esse filme).


Mas, apesar de muita reclamação ser em função da enchente, fica a pergunta no ar: tirando as perdas humanas, o que era REALMENTE diferente ANTES da grande chuva?????? A cidade tinha buracos, faltavam ônibus, faltavam médicos, faltava carinho.


5 meses.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ainda parece que foi ontem

Eu sabia que não conseguiria manter o ritmo de postagens diárias, mas imaginei que conseguiria atualizar ao menos semanalmente. Infelizmente, não consegui comprir a proposta inicial de criação do blog, que era justamente não deixar toda essa catástrofe cair no esquecimento. Eu também sabia que a recuperação de toda a área atingida seria lenta. Mas não imaginei que seria tão lenta, ou em muitas situações, inexistente. Aparentemente, o grande dilúvio caiu no esquecimento, sim. No esquecimento das autoridades incompetentes que deveriam há muito tempo já ter feito alguma coisa, mesmo que minúscula para a nossa recuperação.


Em algumas áreas, o descaso é tão grande, que parece que a chuva aconteceu há uma semana, e não há 3 meses e meio. Os escombros ainda estão por toda parte, numa atitude desafiadora que não permite o esquecimento de quem passa por eles diariamente. Quem visita a cidade se espanta com o abandono de áreas que não foram atingidas. Os locais que estão em recuperação têm o apoio (talvez integral) de iniciativa privada, de doações, de ONGs, como acontece em Vieira, onde a Minha Ajuda Sua Casa faz um trabalho maravilhoso (esse fim de semana teve distribuição de agasalhos).


Tem muita coisa errada. Em Ponte Nova, a escola está abandonada e nunca voltou a funcionar. As crianças foram estudar na Serra do Capim, que fica há uns 10 km de distância. O ônibus da escola passa pelos arredores buscando as crianças. Há três semanas quebrado, as crianças não têm ido à escola. São crianças que querem estudar, que gostam, que são inteligentes e que têm um mínimo de esperança de ter um futuro diferente. É a chance do interior se manter povoado e dessas crianças não precisarem ir para a cidade diariamente. Mas na Secretaria de Educação informaram que há vários ônibus nessa situação. Nos deram o telefone da garagem que faz os reparos, pedindo que ligássemos "colocando mais pressão".


O povo tenta manifestar a sua opinião em demonstrações para tentar tirar o prefeito atual. Mas parece que quem está lá dentro é simplesmente cego, surdo, insensível, só para começar. Enquanto isso, vamos convivendo com escombros, ruas esburacadas, falta de escolas e atendimento médico, políticos que aproveitam a situação para se dar bem (por todos os lados), e um povo feliz por bancar obras de bilhões para reformar um estádio de futebol para receber uma copa do mundo. Vai ser lindo. O país vai ficar ótimo, exatamente como fica um armário entulhado de bagunça escondida da visita. Mas espera só a visitar ir embora e tenta abrir a porta do armário para ver o que acontece...


Não sei a quem recorrer. Não adianta nada só escrever. Caetano tem razão, o Haiti é aqui.

domingo, 13 de março de 2011

Buracos em Terê

















Estes são apenas alguns dos buracos que eu fotografei hoje pela manhã em Teresópolis. A maioria das fotos foram feitas na Reta, principal avenida da cidade. Tem ainda algumas outras perto do Hospital das Clínicas, na Prata, perto da Faculdade de Veterinária (onde ainda tem terra de barreiras que caíram em 12/01) e na Manuel Lebrão, pegando a Rio-Bahia perto da APAE.
Não sei o motivo para tanto descaso com a cidade. Está tudo um horror. O dinheiro, todos sabemos que entra. A saída é que é duvidosa. No momento em que a cidade deveria ser mais cuidada para tentar atrair mais turistas, está parecendo um lixão. Um verdadeiro horror!




sexta-feira, 11 de março de 2011

Japão x terê

Que tragédia no Japão! Nossa, fico imaginando o que as pessoas que estão lá ao vivo e a cores não devem estar vendo e passando. Quanta gente morta, quanta tristeza. Me pergunto também se lá eles irão mentir a respeito do número de mortos, se a população vai ficar abandonada, se o prefeito vai transmitir a impressão que ele está aproveitando a grana que entra fácil pelo estado de calamidade decretada para tirar umas férias e sumir da cidade...
Hoje estamos completando 2 meses de tragédia na nossa região. Hoje fui a Conquista e voltei observando cuidadosamente a região de Vieira. Como é lenta a reconstrução! Vi muitas casas pintadas, lavadas, refeitas. Mas ainda tem muita coisa em escombros. Tem muita coisa sendo reconstruída, ainda tem algumas lojas fechadas. Ainda vemos placas do estilo do Pesqueiro - "Restaurante fechado. Estrada bloqueada". Mas vi bastante obra. As mulheres que já trabalhavam aos montes nas lavouras, agora também trabalham em obras. Os tratores ainda estão na limpeza da terra que, acreditem, ainda está nos cantos das rodovias. Ainda tem muita lama que já foi lama, já foi poeira e agora voltou a ser lama já que estamos entrando no décimo dia consecutivo de chuva.
Quero ver a comparação da reconstrução das cidades atingidas no Japão e da nossa região. Quero ver a comparação do respeito com que vão tratar os mortos e desaparecidos de lá com os de cá.
Quero ver a comparação da atitude dos governantes de lá com os de cá.
Quero ver o que o mundo vai achar disso, e quero ver o tamanho da vergonha que será quando essas comparações forem feitas. Vai ser do tamanho do tsunami...