sexta-feira, 21 de janeiro de 2011







Hoje a Patricia foi para o abrigo no CIAP de Venda Nova, que é uma escola técnica agrícola. O lugar é lindo, cheio de plantações, flores, espaço, quadra, e abriga 150 pessoas, sendo 50 crianças. Nessa região, não teve tanta morte e as pessoas são desalojadas. Existe uma diferença entre desalojar e desabrigar. Consultando o dicionário, desalojar significa fazer sair do lugar ocupado, abandonar o posto, deixar o lugar onde se encontrava, sair do alojamento onde se residia. Já, desabrigar significa tirar o abrigo, desamparar, desproteger. Em Venda Nova, assim como em Sebastiana, a maioria das pessoas estão desalojadas. Algumas tiveram suas casas condenadas ou foram consideradas em áreas de risco. No abrigo da Igreja Metodista na Barra, onde estão muitas vítimas da região de Campo Grande, Posse e redondezas, a maioria está desabrigada. E é nessas pessoas que a gente vê exatamente o desamparo.
Até quando uma pessoa aguenta viver em um abrigo? O que vai acontecer quando a vida tiver que voltar ao "normal"? Eles vão ganhar aluguel social, mas a cidade não tem mais imóveis para alugar, e os preços subiram astronomicamente, já que a procura está acima da oferta. Ontem pensei demais no desemprego e no êxodo rural, e confesso que tenho muito medo que a cidade vire uma grande favela e o interior um grande deserto. Além disso, o inverno vai chegar e o sofrimento vai aumentar. Com que condições psicológicas essas crianças vão crescer?
Pela manhã fui com a Edith levar donativos mais uma vez na queridinha Sebastiana. É que eu fico com muita pena dessa gente que anda quilômetros por uma vassoura, um rodo, um balde e uma água sanitária. Mas a situação parece estar melhorando por lá, com as pessoas tentando voltar para casa. Já tem água mas ainda não tem luz. As estradas já estão bastante limpas.
Mais tarde fui levar a Patricia, a Beth e a outra moça (que agora esqueci o nome, mas amanhã eu colocarei) em Vieira para ver o que o pessoal estava precisando por lá. Essas duas moças são estudantes de um curso técnico de enfermagem, e vieram do Rio no fim de semana passado e neste (incluindo o feriado de quinta no Rio), voluntárias de iniciativa própria, para ajudarem no que pudessem. São pessoas ótimas. A Beth perdeu vários amigos que moravam na Posse. Uma grande amiga dela perdeu a maior parte da família, incluindo o bebê de 7 meses que ela carregava na barriga, mãe, irmãos, etc. e etc, e está internada no Miguel Couto muito grave. A gente não para de ouvir essas histórias. E também não pára de ver as imagens da destruição, do cataclisma, da avalanche, dos morros pelados por toda a parte, da lama que está virando poeira mal-cheirosa. Passando por Vieira hoje, me perguntei quantos corpos devem estar entrando em decomposição misturados nessa lama que chega a quase um metro de altura nas casa, provocando o fedor insuportável.
Para fechar o dia, passamos no abrigo do Meudon para deixar alguns remédios que a Patricia tinha conseguido. Aproveitamos para dar uma parada na cozinha para perguntar quando eles precisariam de carne novamente. Vou usar parte do dinheiro que a Sandra depositou na minha conta para comprar o frango do almoço de domingo. O abrigo está super bem organizado, limpíssimo e a comida que o Lucas faz é maravilhosa. O Lucas veio de Itapecerica da Serra e tem trabalhado de forma incansável cozinhando em panelões enormes para toda essa gente. E a comida é maravilhosa. Ele nos deu um prato de sopa de aipim com carne seca, que estava simplesmente demais! Além disso, o astral dele é contagiante.

5 comentários:

  1. É fácil falar mal, deixar recados engraçados mas, diante de uma ação tão comovente não posso me calar. A atitude de duas jovens bem educadas, em todo o bom sentido da palavra. Meninas de bom nível social mas que não se entregam às vaidades tolas........Nesta ocasião de tragédia das serras cariocas, deixaram o conforto de seus lares e foram ao encontro da tristeza e dos desvalidos. Tiraram forças de onde não sei, já que trabalham arduamente em suas profissões (de sucesso), para levar alento e o seus conhecimentos aqueles que, diante da fatalidade, só podiam esperar por mãos abençoadas como as delas. Falo delas, mas sei que outras mãos também estão disponíveis, o que acalenta o meu coração que já não conseguia ver um mundo capaz de suplantar egoismos. Pela graça de Deus, em meio a tanta tristeza, tiro uma lição de vida: são esses momentos que nos dão sentido à vida pois, morrer um dia todos iremos, mas aprender e ensinar é, com toda certeza, a missão que temos a cumprir nesse "vale de lágrimas" e é o que está acontecendo nesse momento, aprendemos com aqueles que ainda têm esperança diante de tanta dor, gratos ao Pai por estarem vivos. Sorvemos também uma grande lição: quando o brasileiro é chamado a demonstrar amor, ele responde com grandeza de coração como estamos vendo agora, são pessoas de todas as idades, condição social, credo enfim, brasileiros que se mobilizaram num grande abraço de comunhão !!!!!!!!! Existem muitos "justos" para que o mundo seja destruido.
    Obrigada TITI, obrigada PAULA por vocês, jovens sobrinhas, serem a parte visível desse imenso amor. Lá do céu seu avô (gramde servidor do pais), vovó Lu, vovô Pedro..... estão orgulhosos de vocês. Obrigada meu Deus por termos condições de ver que o ser humano ainda é digno do TEU sacrifício.
    Raquel Ribas

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  2. tia Raquel,
    Tem muitos "justos" para que o mundo seja destruído!! Só quero que essa tragédia toda não seja esquecida quando o carnaval chegar!
    Obrigada!!
    bjs

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  3. Minha querida,
    cabe a nós não deixar que tudo isso caia no esquecimento. Temos que manter acesa esta chama, incomodando as autoridades e cobrando de todos a clareza nos gastos com o dinheiro público. Acho até que deveriam levantar essa bandeira, "transparência" na prestação de contas na utilização das verbas encaminhadas para a solução desse problema, aliás da prevenção de novas catástrofes e solução para os desabrigados.........
    Temos que pensar em como fazer isto. É uma discussão para advogados e associações de moradores.......
    Outra coisa, não deixe de dar um grande beijo no André, sobrinho também muuuuuuuuito querido que tem sido também incansável na ajuda aos que sofrem.
    O pessoal da minha família está com donativos e os entregarão no B Peixoto, aliás também aproveitei o carreto deles para mandar saboneteiras. Semana que vem mando mais coisas que puder. Vou falar com Juliana sobre os brinquedos e tentarei ir ao Saara para comprar brinquedos para meninos..........
    Grande beijo para todos
    Tia Raquel

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  4. O nome da moça é Ddenise. Super Denise!!!

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  5. Patricia e Paula, mesmo de loge não deixei de acompanhar a brilhante luta de vocês duas nessa tragédia toda. fiquei muito orgulhosa de ver o empelho de vocês, e muito feliz por estarem ajudando tanta gente. Parabéns e que Deus abençõe a todos vocês.Marcia carolina

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