quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mais um dia






Hoje comecei o dia levando algumas poucas coisinhas no abrigo de cães no Meudon, que está cada vez mais cheio. Lembrei de uma cadelinha que conheci no Manège do Nelson Pessoa, numa das viagens que fiz para levar alguns cavalos. Ela se chamava Katrina. Adivinhem por que? Exatamente, foi resgatada de um abrigo, salva do Katrina nos Estados Unidos. Extremamente inteligente, fofa, tudo aquilo que se espera do vira-lata perfeito.

Recebi um telefonema do Hilton, pai de amigas minhas, e que trabalhou comigo na Nossa Teresópolis. Não sei como, o blog chegou até ele. Isso me deixou bem satisfeita, porque o objetivo é realmente atingir o máximo possível de pessoas. E o Hilton é gente da terra, conhece muita gente e participa de muita coisa na cidade. Ele se solidarizou com o que eu sinto e escrevo aqui. Ele foi voluntário no IML nos primeiros dias, coisa que eu jamais teria condições de fazer. Nem dentro do IML e nem na porta, tentando amenizar de alguma forma o sofrimento das famílias. Nos sentimos quase culpados por estarmos bem. O Hilton e eu coordenávamos o grupo de trabalho de Habitação da Nossa Teresópolis. Como projeto piloto para remoção de comunidades de áreas de risco, escolhemos uma comunidade pequena e que se encontra em super risco - exatamente na frente de onde eu trabalho, no Haras Boa Fé. Trata-se de uma faixa de terra de uns 15m de largura, entre uma rodovia estadual e um rio. As crianças brincam no acostamento, onde ficam também as portas das residências. É claro que é uma área invadida, e eu já andei lá por dentro e vi colunas de casas dentro do rio. Não preciso dizer que é zero de saneamento, e o esgoto de todas as casas cai diretamente no rio. Não foi adiante, apesar da palavra que me foi dada pessoalmente pelo atual prefeito da cidade: "vou fazer isso no meu primeiro ano de governo"... Talvez, se tivesse sido feito, a Viviane, moradora de lá, que perdeu a casa dela nessa chuva, não estaria morando amontoada na casa de algum parente ou vizinho, que também pode perder a casa a qualquer momento. Talvez, se tivesse sido feito, já haveria alguma idéia de como começar a construir as casas populares na Fazenda Ermitage, que foi desapropriada ontem. Já saberiam o que funcionou e o que deu errado, e erros seriam minimizados de alguma forma nesse momento de mais de 3.000 desabrigados.
Hoje o Milton Blay, correspondente internacional da Bandnews, disse que o Le Monde fez uma reportagem metendo o pau no Brasil, e de como essa catástrofe toda está sendo conduzida, suas causas, como poderia ter sido minimizada, e comparando o Brasil com Bangladesh! Olha a que ponto chegamos...

Para finalizar, coloco algumas fotos de Vieira, por onde passei hoje indo a um sítio em Conquista. Ainda fiquei impressionada com o tamanho das pedras que rolaram, com a alteração da paisagem e com a mudança no curso do rio na frente do St. Moritz. Me dei conta que casas pela metade ou pessoas procurando objetos nos escombros não me impressionam mais. As máquinas já estão trabalhando, e a presença maciça do exército, mais uma vez, me deu a impressão de estar numa guerra. Mas o que me deixou triste mesmo, foi ainda o silêncio dentro do supermercado, onde parei na volta do trabalho para comprar uma cesta básica para o Messias, afinal, o armazém de Ponte Nova foi destruído. A atendente da caixa ainda me parecia meio em estado de choque. Eu já estava irritada com a lerdeza da fila, quando me dei conta que ela não estava bem. Mais uma vez, ouvi uma história de alguém que teve que deixar tudo e se abrigar na casa de algum conhecido. Ela morava no Salaco.




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