quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ainda parece que foi ontem

Eu sabia que não conseguiria manter o ritmo de postagens diárias, mas imaginei que conseguiria atualizar ao menos semanalmente. Infelizmente, não consegui comprir a proposta inicial de criação do blog, que era justamente não deixar toda essa catástrofe cair no esquecimento. Eu também sabia que a recuperação de toda a área atingida seria lenta. Mas não imaginei que seria tão lenta, ou em muitas situações, inexistente. Aparentemente, o grande dilúvio caiu no esquecimento, sim. No esquecimento das autoridades incompetentes que deveriam há muito tempo já ter feito alguma coisa, mesmo que minúscula para a nossa recuperação.


Em algumas áreas, o descaso é tão grande, que parece que a chuva aconteceu há uma semana, e não há 3 meses e meio. Os escombros ainda estão por toda parte, numa atitude desafiadora que não permite o esquecimento de quem passa por eles diariamente. Quem visita a cidade se espanta com o abandono de áreas que não foram atingidas. Os locais que estão em recuperação têm o apoio (talvez integral) de iniciativa privada, de doações, de ONGs, como acontece em Vieira, onde a Minha Ajuda Sua Casa faz um trabalho maravilhoso (esse fim de semana teve distribuição de agasalhos).


Tem muita coisa errada. Em Ponte Nova, a escola está abandonada e nunca voltou a funcionar. As crianças foram estudar na Serra do Capim, que fica há uns 10 km de distância. O ônibus da escola passa pelos arredores buscando as crianças. Há três semanas quebrado, as crianças não têm ido à escola. São crianças que querem estudar, que gostam, que são inteligentes e que têm um mínimo de esperança de ter um futuro diferente. É a chance do interior se manter povoado e dessas crianças não precisarem ir para a cidade diariamente. Mas na Secretaria de Educação informaram que há vários ônibus nessa situação. Nos deram o telefone da garagem que faz os reparos, pedindo que ligássemos "colocando mais pressão".


O povo tenta manifestar a sua opinião em demonstrações para tentar tirar o prefeito atual. Mas parece que quem está lá dentro é simplesmente cego, surdo, insensível, só para começar. Enquanto isso, vamos convivendo com escombros, ruas esburacadas, falta de escolas e atendimento médico, políticos que aproveitam a situação para se dar bem (por todos os lados), e um povo feliz por bancar obras de bilhões para reformar um estádio de futebol para receber uma copa do mundo. Vai ser lindo. O país vai ficar ótimo, exatamente como fica um armário entulhado de bagunça escondida da visita. Mas espera só a visitar ir embora e tenta abrir a porta do armário para ver o que acontece...


Não sei a quem recorrer. Não adianta nada só escrever. Caetano tem razão, o Haiti é aqui.