sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Hoje fui tomar um café com uma amiga que não encontrava há algum tempo. Cada uma contando as suas experiências durante esses últimos 17 dias, ela me contou que um amigo do pai dela, depois de ver a esposa, o filho e a nora serem arrastados pela enxurrada, tomou as duas netas pela mão, mas para não ser arrastado com as duas, teve que soltar uma para poder se segurar. Alguém pode se imaginar nessa situação? Ela também me contou que a moça que trabalhava na casa dela, que morava no Caleme, não apareceu para trabalhar até hoje. Ela tem notícia que ela está bem, não perdeu a casa nem a família, mas saiu de lá com toda a família e desapareceu. Não atende o telefone, não liga de volta. Deve estar morando na casa de alguém.
Isso me levanta uma questão seríssima - até que ponto essa política assistencialista é benéfica? Ou melhor, quando é que passa a atrapalhar? Passado o susto inicial e o luto, que durará por muito tempo para todos, as pessoas têm que retomar suas vidas normais. Mas passar o dia em um abrigo, com voluntários doando comida, cozinhando, organizando, e etc., pode ser bastante cômodo. Não estou generalizando, tem muita gente boa, bem intencionada e empenhada em ter sua vida, sua roça e seu trabalho de volta. Apenas considero que isso é mais uma importante parcela do trabalho de recuperação - a assistência social - orientando e estimulando as pessoas, e evitando que o "assistencialismo" seja mais cômodo do que o trabalho suado.
Na roça, o trabalho da defesa civíl está bastante adiantado. Em Venda Nova, de 130 pessoas, hoje só tinham 26 no abrigo. Os outros já voltaram para as suas casas, mas dependem ainda bastante do auxílio do abrigo. Hoje dei uma carona a uma moça, a Priscila, que carregava sua pequena Emily, de 2 meses, e estava aguardando um ônibus para o Imbiú, que fica no caminho de Sebastiana. Eu estava indo a Sebastiana levar algumas coisas que peguei no Rotary. Ela me disse que não perderam a casa onde moravam, mas que a lavoura onde eles trabalhavam acabou e o marido foi mandado embora. Coloquei-a em contato com uma pessoa que procura um casal de caseiros. Tomara que funcione, que eles aproveitem a oportunidade e mostrem um bom trabalho.
Amanhã vou para Vieira com a Patricia. Também pretendo ir a outros abrigos com crianças. Ela chegou em Teresópolis com o carro absolutamente LOTADO de brinquedos! Vamos ver a situação do abrigo, vamos ver se a prefeitura esteve lá, uma vez que já notificamos que as condições são muito précárias.
Espero muito que as pessoas voltem a visitar a Serra. Hoje fez um dia lindo, desses que só tem aqui! Quem não viveu de perto a tragédia, talvez nem note o que aconteceu. Basta não olhar para os cumes das montanhas.

Um comentário:

  1. Paulinha,
    falei com a Fernanda sobre as aulas com aproveitamento de garrafas pet, imprimi umas "apostilas" e as dei a ela hoje (28/01,)para ir lendo e vendo o que é mais interessante para o momento. Isso, com certeza, irá estimular aos desabrigados e necessitados em geral para recuperarem suas casas, dar a eles uma motivação e também é uma forma de reaproveitar a quantidade enorme de pets de água que foram enviadas para matar a sede ........ Tem projetos até de construção de casas com garrafas pet, muito interessante, fale com ela para que mostre as "apostilas"
    Força querida, cuidem-se
    bjs
    Tia Raquel

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