quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tragédia anunciada

Não, não me refiro à chuva que poderia ter sido prevista pela meteorologia, nem às casas construídas nas encostas dos morros que todo ano desabam, o assunto nem tem relação direta com a catástrofe climática que assolou a região serrana. Me refiro a uma pequena comunidade que faz parte da minha vida diária, por estar localizada exatamente em frente ao local onde trabalho todos os dias. Em um dos meus primeiros posts (aqui) falei da casa que caiu na comunidade chamada "Porto", uma comunidade (termo politicamente correto, para não dizer favela) em frente ao Haras Boa Fé. Entre o rio e a rodovia estadual que liga Teresópolis a Friburgo, tem uma estreita faixa de terra, invadida, com pequenos casebres e uma população que cresce e se multiplica em ritmo galopante.

Todos já ganharam pilhas de tijolos de candidatos a vereadores e títulos de posse de prefeitos. Mas as portas das casas ficam dentro da faixa de proteção marginal da estrada (no acostamento mesmo), as janelas ficam em cima do rio, os pedestres (cada vez mais numerosos) transitam pelo acostamento e as crianças jogam bola de gude abaixadinhos colados à estrada. No início do mês, a primeira tragédia - a casa que rachou, mas não chegou a ser uma tragédia de fato. Hoje, sim. A VERDADEIRA tragédia.

Um motorista, policial cansado, voltando de 48 horas de trabalho e quase chegando em casa, dormiu por alguns segundos depois do primeiro quebra-mola, e invadiu o acostamento, batendo de frente numa casa. Brincando na frente da casa, estavam os 4 filhos do Zé Luiz, que é filho do Sassá, e o próprio Zé Luiz. Um dos meninos morreu na hora, duas das crianças foram levadas com vida para o hospital (uma com ferimentos leves e outra em estado mais grave), e a quarta ficou aguardando a chegada dos bombeiros, que a levaram de ambulância para o hospital, onde ela morreu ao chegar. O Zé Luiz, bastante ferido e em estado de choque, ainda está no hospital. A mãe das crianças está do mesmo estado que se imagina que qualquer mãe possa estar ao ver seus 4 filhos atropelados de uma vez. Uma tristeza sem tamanho. Esta é a notícia publicada no G1.

Há alguns anos levantamos a questão no Nossa Teresópolis. Falamos exatamente a respeito dessa comunidade, que poderia servir como teste para remoção de outras. São aproximadamente 70 famílias hoje. Não é difícil prever que algumas casas vaõ cair e que algumas pessoas vão morrer atropeladas. Grande parte dos moradores passa o dia vagando pela calçada, que é o acostamento da RJ 130. Muitos não querem sair de lá, e até me olham de cara feia, sabendo que eu gostaria de vê-los morando em outro local. Esse seria o momento de entrar uma assistência social, cadastrar todos, e desapropriar alguma área próxima para fazer a relocação. Quantas mortes serão necessárias para que isso ocorra?

2 comentários:

  1. Inha,
    Mais força ai... Sei que essa nuvem de tristeza está muito carregada....
    Pensando muito em vc...

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  2. Minha sobrinha querida,
    não se incomode tanto com o olhar inviezado dos moradores, são pessoas que não conhecem esse lindo coração. Continue na sua, não perca o direito de se revoltar contra os que usam o pobre povo para encher seus bolsos........... Conte conosco, com nossos ombros, corações e orações.
    Deus te abençoe cada dia mais.
    Muitos beijos
    Tia Raquel

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