domingo, 13 de fevereiro de 2011

Relexões de domingo III - Um mês depois...

Um mês depois da catástrofe, como está a cidade?
Aparentemente, muita coisa voltou ao normal. Quem não esteve por aqui nos dias críticos, quem não participou das primeiras 72 horas, não pode nem imaginar o que aconteceu. Quem veio passar esse fim de semana em Teresópolis, não viu mais barreiras pela estrada, não ouviu sirenes rodando pela cidade o tempo todo, não viu nenhum helicóptero cortando o lindo céu azul de mais um final de semana de sol. Temperatura agradabilíssima, restaurantes abertos, hotéis funcionando em sua maioria. Que bom.
Tem gente até fazendo turismo por Campo Grande, vários carros ainda andam mais devagar ao passar na Teresópolis-Friburgo na altura de Vieira para observar as pedras e as casas destruídas. E a poeira ainda deixa as suas marcas. Para a maior parte da sociedade, a vida tem que retomar seu ritmo pré-tragédia.
Mas basta passar na porta da Caixa Econômica para ver a constante aglomeração ao redor do painel com os nomes dos 3.000 beneficiados pelo aluguel social, que não será suficiente para pagar o aluguel super valorizado de uma casa, para quem tiver tido a sorte de encontrar uma. Alguns abrigos esvaziaram quase completamente. Os que funcionavam em escolas foram transferidos, como o de Venda Nova. Não tive notícias de Vieira essa semana, mas vou dar uma passada lá. O do Meudom continua recebendo mais gente, transferida de algumas escolas e igrejas. Muita gente arrumou a casa de algum parente para morar.
30 dias dormindo coletivamente. 30 dias comendo coletivamente. Zero de intimidade ou privacidade. Escolas que não vão voltar a funcionar por falta de alunos. Um bairro que teve que se mudar. Fábricas e comércio que tentam fazer as contas do prejuízo. Gente que prefere receber uma cesta básica do que voltar a trabalhar. Gente que prefere deixar de ir à praia no final de semana para ajudar. Nomes de conhecidos que ainda descobrimos na lista de mortos. A lista de desaparecidos pendurada na praça da Igreja. Será que vamos simplesmente nos acostumar com essa situação?
Dias 26 e 27 de fevereiro o CEAT vai fazer um Fórum de Prevenção e Gerenciamento em eventos extremos. Vejo que a coisa tem que ser multidisciplinar. Ainda me preocupo com o impacto psicológico das inúmeras perdas numa sociedade desmantelada. O que será dessa gente que sobrou? Como eles vão aprender a lidar com a morte? Será que eles também irão simplesmente se acostumar?

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