terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Noite de pesadelo


Essa noite tive muitos pesadelos.


Ontem fui a Santa Rita com o pessoal da WSPA e alunos da UNIFESO ver um cavalo machucado na enchente. Nada do que eu tinha visto até ontem, tirando o Vale do Cuiabá, chegou nem perto do que eu vi lá, ainda que 30 dias depois da chuva. Para começar, virou uma espécie de "cidade fantasma". O que restou - bares, casas, escolas, lojas - está completamente vazio! Não se vê ninguém nas ruas. Carros enterrados na lama, carros arrastados contra um poste, carros que não é mais possivel identificar a marca. Lama e lixo a uma altura não imaginável. Vilas inteiras simplesmente desaparecidas. Se eu não tivesse conhecido a região antes, não saberia que havia casas em determinados lugares, porque não tem nem vestígio dessas casas. Estou falando de casas boas, e não barracos. Estou falando daquelas famílias que sumiram por inteiro.


Chegando ao local, um antigo haras de puro sangue inglês, as famílias que moravam em suas casas dentro da propriedade estavam todas acampadas em um salão, no que deve ter sido um dia a sede. A Marta, uma protetora de animais, nos levou até lá. Ela própria leva roupas e alimentos (para gente e animais), no carro dela, enfrentando lama, água, buracos e sabe-se lá mais o que, para pessoas que estão isoladas em lugares onde só se chegou na SEMANA PASSADA (quase UM MÊS após a chuva). Nesse haras, tem gente desaparecida que eles imaginam estarem já enterradas em alguma parte da lama, que chega ao topo dos moirões dos piquetes. O potro estava já super bem cuidado pelo Edvaldo, que deu uma super prova de amor aos animais, se preocupando em conseguir medicamentos e tratar um potro quase selvagem, que só deixava ele se aproximar, ninguém mais.


Enquanto a cidade tenta retomar um ritmo normal, me deparo ainda com cartazes em lojas no interior onde se lê "Não fechamos. Estamos funcionando em tal endereço." Ou então, como no caso da Pensão da Ruth, em Ponte Nova: "Restaurante Aberto". Enquanto tentamos retomar a normalidade, escolas no interior ainda não funcionam, ou então as que funcionam, não tem vaga. Ainda escutamos histórias de desaparecidos, que ninguém sabe onde estão. Crianças ainda vibram com um brinquedo velho e usado, que foi doado.


A cidade está tentando reagir, tentando sair das mãos de um governo corrupto e incompetente. Mas enquanto isso, a sociedade civil ainda faz o que já tinha que estar sendo feito pela prefeitura. Ainda visitamos e ajudamos a manter abrigos. Ainda distribuímos alimentos. Ainda vamos nos nossos carros nas áreas desassistidas e ainda isoladas, mesmo 30 dias depois, como ainda faz a Marta, a Luiza, o Alessandro, a Patricia, a Michelle, a Lúcia, a Andrea, o Ricardo, a Ana e tantos outros.

Um comentário:

  1. Não sei o que dizer, a não ser que em minhas orações vocês estão sempre presentes, pedindo ao PAI que dê forças e mais capacidade de superação........
    ELE não está cego à atitude de vocês, pensem que o exemplo de amor que vocês estão dando, toca os corações, principalmente dos pequenos que crescerão com a imagem de heróis anônimos para muitos, mas presentes nos corações daqueles que receberam essa prova de caridade verdadeira e principalmente por DEUS que tudo vê e provê!
    Que o SENHOR os abençoe e guarde.
    Daqui o meu carinho, admiração e orações.
    Quando quiserem estou disposta para o que for necessário.
    bjs
    Tia Raquel

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