segunda-feira, 7 de março de 2011

Reflexões de carnaval


Como falei no primeiro post, eu sabia que não conseguiria escrever diariamente por muito tempo. Ultimamente nem tenho conseguido participar dos eventos importantes na cidade. Teve o I Fórum Nacional de Prevenção e Gerenciamento em Eventos Extremos, organizado pelo CEAT e não pude ir. Estou de mudança, e isso consumiu o meu tempo (livre e não livre!) durante vários dias. Mas li a Carta de Teresópolis, resultado do Fórum. Seria muito bom que tudo que é colocado na carta fosse de fato atendido.



Hoje uma tia minha, que mora em São Paulo, me perguntou se eu achava que as coisas já estavam tomando um rumo. Acho que bastante coisa já tomou um rumo. E vejo ainda muita coisa e muita gente perdida, totalmente sem rumo. Cada vez que vou a Santa Rita ainda me espanto com o que vejo. Nunca entrei no Campo Grande, mas acho que não vai ser diferente do que eu já vi que significa quando se diz que "não sobrou nada". Mas vejo as lavouras retornando, gente reconstruindo casas, lojas reabrindo. A escola de Ponte Nova só agora está começando a ser limpa novamente. Os alunos que sobraram foram transferidos para a escola de Serra do Capim. Ainda tem os escombros das casinhas que foram arrastadas. Não queria mesmo que daqui a anos esses mesmos escombros permanecessem lá. Não é apenas uma questão de estética. É uma questão de amor próprio. O astral melhora quando o ambiente está limpo, bonito, arrumado.


Em Sebastiana já pararam com a distribuição de cestas básicas. O que no início foi ajuda essencial, estava começando a atrapalhar o desenvolvimento e a retomada a uma normalidade. Com ajuda privada, as lavouras já estão começando a ter condições de voltar a trabalhar. Mas a mão de obra estava faltando. Muita gente em casa, abastecido por ajuda externa, e com isso aumentando o etilismo. Outro dia parei para uma água num barzinho/armazém na beira da estrada em Vieira e soube que a moça que trabalhava lá estava em casa com depressão desde a enchente. Me dei conta que sempre achei que depressão fosse um problema de rico, e não de pobre. Também soube de crianças que estão com problemas na volta às aulas, pela perda de amiguinhos.


No início falaram na desapropriação da Fazenda Ermitage. Depois falaram que não seria possível. No final das contas, não sei o que foi decidido. Onde serão construídas as casas para os desabrigados, para as pessoas que moravam no Bairro de Campo Grande, que no último censo tinha 6 mil habitantes. Então decidi entrar no site da Prefeitura de Teresópolis para tentar descobrir alguma coisa. Para minha surpresa, a última atualização da parte de "Central de desaparecidos" foi no dia 25 de janeiro. Não sei mesmo porque isso me espanta. Praticamente 2 meses depois da tragédia, o caminho da Prata ainda está interditado. Simplesmente interditado, já que passo lá diariamente, em diferentes horários, frequentemente mais de uma vez ao dia, e nunca vi uma máquina trabalhando lá. Todos os carros tem que passar pelo acesso lateral (rua do Detran), que vai dar em uma obra na Rio-Bahia (contenção de uma encosta enorme, obra da CRT), e forma-se uma fila enorme de carros diariamente. Nunca vi a cidade tão esburacada em suas vias principais, nunca vi tanto abandono. Acho no mínimo desrespeitoso e ridículo esse número de "373 mortos e cento e poucos desaparecidos".



Também em alguma postagem anterior, falei que talvez tudo já tivesse sido esquecido quando o carnaval chegasse. A Prefeitura cancelou o carnaval na cidade. Era só mesmo o que faltava, a essa altura gastar mais dinheiro com um desfile (que sempre é horroroso), shows e festas. Chove há mais de uma semana. O tempo ficou cinza e frio. Acho que o carnaval foi uma pausa para todos respirarem e pegarem fôlego para o ano finalmente começar.

2 comentários:

  1. O povo tem que decidir se isso foi o suficiente para que, numa próxima eleição, deixem de vender seus votos e compareçam às urnas com mais consciência.........
    bjks
    Tia Raquel

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  2. Eu tenho vergonha e arrependimento de ter me empenhado para ajudar a eleger esse incompetente e relapso para a Prefeitura de nossa Cidade. Enganou a mim e a todos nós com seu discurso de falso rebelde. Nesses praticamente 40 anos que vivo em Teresópolis nunca vi um governo tão medíocre. O nosso Município necessitava de um governante que de fato pensasse no seu povo e não em si próprio.
    Pela primeira vez na história política estamos irmanados com o Governo Federal e Estadual e para que?
    Paula desculpe o meu desabafo e a minha amargura.
    Parabéns mais uma vez por seu limpo e sensato texto, abraços e recomendações.
    Marcio Esbérard

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